O que é o eczema?
O eczema é um grupo heterogéneo de doenças da pele, não infecciosas, ou seja, tanto quanto se sabe não provocadas por germes, que podem ser causadas por mecanismos irritativos ou relacionados com a imunidade, que conduzem a alterações na epiderme e na derme.
É o tipo mais frequente de doença da pele, sendo frequentemente de origem laboral ou ocupacional. O eczema, na realidade, não é uma doença determinada, mas sim um conjunto de sinais e sintomas que podem representar uma forma exagerada de reação da pele face a diversos estímulos. Na fase aguda pode apresentar-se como eritema (vermelhidão na pele), pápulas (borbulhas), vesículas (bolhas), exsudado (libertação de fluido), crostas. Na fase crónica pode haver espessamento da pele, liquenificação (a pele torna-se espessa, com uma textura semelhante a couro, sendo afetadas as linhas da pele) e descamação. A comichão é um sintoma constante.
É frequente, tal como nesta informação, que os termos "eczema" e "dermatite" se utilizem como sinónimos, enquanto outras vezes se prefere o termo "dermatite" para lesões do tipo agudo, reservando-se o de eczema para lesões de tipo mais crónico, que apresentem hiperqueratose (espessamento do estrato córneo da pele).
Quais as causas de eczema?
Não se sabe completamente qual o motivo pelo qual muitas pessoas desenvolvem dermatite, embora já se saiba que se deve a um problema do sistema imunitário. Este problema desencadeia uma reação da pele quando há contacto com uma série de substâncias de utilização habitual.
Tipos de eczema e sua frequência
Estima-se que as dermatites, em geral, têm uma prevalência superior a 10%, ou seja, que num dado momento afeta essa percentagem da população. Entre os tipos de eczema mais frequentes encontram-se:
- Eczema atópico (ou dermatite atópica): frequente em crianças; estima-se que afeta num dado momento entre 10 e 20% da população infantil, enquanto a prevalência nos adultos se situará entre 1 e 3%. Sem que sejam conhecidas rigorosamente as causas, nas últimas décadas a prevalência nos países industrializados duplicou ou triplicou, enquanto é menos frequente em países com economia agrícola;
- Dermatite alérgica de contacto: ocorre fundamentalmente em adultos, e a prevalência estima-se entre 2 e 9% da população;
- Dermatite irritativa de contacto: ocorre frequentemente nas mãos e que se deve a irritantes químicos, como os detergentes;
- Dermatite seborreica: mais frequente nos homens do que nas mulheres, estima-se que afeta 5% da população.
Eczema atópico
Este problema ocorre habitualmente em crianças, por vários motivos, os quais incluem predisposição genética e exposição a uma série de fatores ambientais aos quais a criança pode ser exposta. Embora existam muitos possíveis desencadeantes, entre os frequentes incluem-se:
- Ácaros do pó das casas: mesmo nas casas mais limpas, estes insetos habitam em móveis, tapetes, colchões,…
Estes fatores podem desencadear uma reação da pele através do contacto com a pele ou por inalação. Também podem provocar rinite alérgica ou asma, em vez de, ou além de, eczema. Não se sabe porque é que as crianças reagem de forma distinta a estes fatores; menos de 10% das crianças desenvolve eczema atópico - dermatite atópica por reação a certos alimentos, como ovos, leite ou farinha. É importante, como medida de prevenção, identificar e evitar os desencadeantes específicos de cada caso; por si só, esta medida pode melhorar a doença sem mais nenhum tratamento.
Outros tipos de eczema
Existem muitos outros tipos de eczema, cada um com os seus sintomas e sinais característicos. Um tipo frequente é o eczema alérgico de contacto, que surge por uma reação alérgica, quando um metal ou uma substância química à qual uma pessoa é sensível entra em contacto com a pele. Em pessoas muito sensíveis, mesmo quantidades ínfimas podem desencadear uma reação grave na zona de contacto. Uma substância como o níquel pode provocar problemas mesmo depois de atravessar várias camadas de roupa, suspenso no suor da pessoa afetada. O facto de se tocar na face após mexer em moedas de níquel pode inclusive provocar uma erupção.
Como lidar com o eczema
O eczema provoca sofrimento, tanto físico como emocional, nos doentes que dele sofrem e nas suas famílias, podendo ter um impacto significativo na qualidade de vida tanto de crianças como de adultos.
Para os adultos, os principais problemas são as alterações do sono e a perda de horas de trabalho; para as crianças é importante o tratamento eficaz para lhes permitir um desenvolvimento físico e mental apropriado. Com efeito, o eczema pode:
- Influenciar as relações familiares;
- Impedir o desfrute completo das atividades físicas do dia-a-dia: jogos, praticar desportos e natação;
- Isolar a criança dos seus colegas de escola e amigos.
O tratamento eficaz pode aliviar os sintomas de comichão e vermelhidão, permitindo que a pele volte à sua aparência saudável e normal. Deste modo, a pessoa afetada pode viver comodamente com o eczema.
É fundamental um bom acompanhamento do doente e dos pais e um bom aconselhamento sobre a doença para desfazer os seus mitos.
A criança com dermatite atópica pode, na maior parte das vezes, levar uma vida normal, quase sem restrições (que poderiam levar a fenómenos de exclusão social).
Foram identificadas muitas substâncias desencadeantes; variam de pessoa para pessoa e nos diferentes tipos da doença. Entre os desencadeantes frequentes encontram-se:
- Materiais ásperos sobre a pele e fibras sintéticas;
- Certos sabões, detergentes ou desinfetantes;
- A saliva, o pêlo e a descamação da pele dos animais;
- As infeções, como constipações ou gripe;
O controlo destes desencadeantes pode ser a parte mais importante do tratamento do eczema; contudo, é difícil precisar especificamente o que provocou um episódio de exacerbação.
Cuidado intensivo da pele
Uma característica importante do eczema é a pele seca; a sua correção deve fazer parte de um tratamento eficaz.
Isto é alcançado através da utilização regular de hidratantes, que são misturas de água e gorduras em diferentes proporções, mas que não contêm fármacos ativos. Formam uma camada sobre a pele que retém a humidade. Podem ser utilizados ao mesmo tempo que um tratamento farmacológico ou depois de este ter terminado para ajudar a prevenir recaídas. Além disso, deve evitar-se a utilização de sabões que eliminam as gorduras naturais da pele. Utilizar para o banho produtos à base de aveia coloidal e sempre sem sabão.
Os hidratantes melhoram a aparência e o tato da pele. Existem muitos tipos diferentes, pelo que deve perguntar ao seu médico qual é o que convém utilizar no seu caso concreto.
Tratamento
Utilização de corticosteroides
As preparações tópicas (de utilização na pele) com corticosteroides são, geralmente, a base do tratamento ativo de todos os eczemas, talvez excetuando as formas mais ligeiras.
Funcionam interferindo nas reações que levam à inflamação da pele. Utilizados adequadamente, os preparados com corticosteroides podem proporcionar um alívio rápido da comichão e da vermelhidão.
As preparações tópicas de corticosteroides têm diferentes potências:
- Potência IV – Muito Forte.
Quanto mais potentes, mais efeitos secundários produzem, quanto menos potentes, menos eficazes podem ser, dependendo do tipo de tratamento e grau de doença.
O seu médico dar-lhe-á indicações sobre qual utilizar.
É conveniente seguir as indicações dadas e não exceder em duração o tratamento proposto.
Após terem sido utilizados durante mais de 50 anos para tratar as doenças e problemas da pele, foram agora desenvolvidas novas formulações que evitam muitos dos problemas observados com os corticosteroides anteriores.
Os pontos-chave relativamente à utilização de corticosteroides tópicos são:
- Os preparados modernos são muito eficazes e têm muito poucos efeitos secundários;
- Os preparados modernos podem ser utilizados durante períodos prolongados e apresentam-se em muitas formulações distintas (cremes, loções, pomadas...), pelo que podem ser utilizados para tratar praticamente qualquer tipo de eczema, tendo em conta o tipo de pele ou a área que deve ser tratada;
- A última geração de corticosteroides potentes pode inclusive ser utilizada em crianças;
- Os corticosteroides só devem ser usados segundo as instruções e aconselhamento de um médico ou farmacêutico.
O tratamento do eczema infetado
A pele danificada pela presença de um eczema está particularmente predisposta à infeção; o tipo mais frequente de infeção é o originado pelas bactérias que habitualmente se encontram na pele. Uma infeção pode piorar muito um eczema, pelo que necessita de tratamento com antisséticos ou antibióticos aplicados na própria pele ou, alternativamente, por via oral. Menos frequentemente, uma zona da pele com eczema pode ser infetada por um fungo ou por um vírus; estes microrganismos necessitam de tratamento com fármacos específicos.
O controlo da comichão
A maior parte dos casos de eczema apresenta comichão intensa como uma das suas características. Este problema está particularmente presente durante a noite, provocando problemas de sono e afetando a qualidade de vida da pessoa que dele sofre. O tratamento eficaz pode, em grande medida, aliviar a comichão, mas pode ser necessária uma ajuda adicional.
Utilizam-se frequentemente anti-histamínicos com efeitos sedativos para tratar este problema, pelo que será necessário ter cuidado ao conduzir ou utilizar máquinas.
Novos tratamentos para o eczema
Certos fármacos que são tomados para modificar o sistema imunitário (para permitir, por exemplo, que o organismo aceite um órgão transplantado) foram formulados como cremes ou pomadas e são atualmente utilizados para tratar o eczema. Estes “imunossupressores tópicos”, disponíveis com receita médica, só deveriam ser utilizados para o eczema quando o tratamento convencional não é apropriado ou não tenha proporcionado o alívio adequado. A experiência sobre o uso de imunossupressores tópicos é ainda limitada e são necessárias mais avaliações sobre a sua utilização a longo prazo e sobre a relação benefício-risco.
Casos graves de eczema
As crianças mais velhas e os adultos com eczemas graves podem ser tratados com fotoquimioterapia; este tratamento combina a toma de um fármaco por via oral com a exposição da pele à luz ultravioleta.
O tratamento aplicado unicamente na pele pode não ser suficientemente eficaz para os doentes com eczema muito extenso ou de início muito agudo e grave. Nestes casos, pode ser necessária a administração de fármacos, por via oral ou injetáveis, para suprimir as reações inflamatórias do organismo (imunossupressores por via sistémica). Estes tratamentos requerem um seguimento regular e próximo para além de um diálogo cuidadoso entre o médico e o doente.
Tratamentos alternativos
Frequentemente, os doentes que não estão satisfeitos com o seu tratamento médico convencional recorrem a uma série de terapêuticas alternativas. Muitas destas são inócuas, mas algumas formas de tratamento, em concreto certos produtos à base de plantas, são potencialmente perigosos, dado que, no passado foram associados a lesões orgânicas. Recomendamos que consulte o seu médico antes de tomar qualquer destes produtos e não abandone por sua iniciativa a medicação prescrita.
Tratamento da barreira cutânea alterada
O tratamento da barreira cutânea hidrolipídica, que se baseia na integridade funcional da camada córnea da pele, é a base do tratamento da dermatite atópica.
A alteração desta barreira provoca perda de água, o que origina a secura da pele. Por outro lado, é mais fácil a penetração de alergénios ou outras substâncias, que podem gerar uma cascata imunológica que origina inflamação e comichão (alergias). Foi demonstrado recentemente que algumas alterações genéticas favorecem o aparecimento de defeitos no estrato córneo e isso favorece o desenvolvimento de dermatite atópica.
Para a integridade anatómica e funcional do estrato córneo são imprescindíveis os lípidos, gorduras, que diminuem quando a barreira hidrolipídica se altera. Crê-se que essa perda de lípidos pode, por sua vez, alterar a barreira, como ocorre na dermatite atópica.
No tratamento específico da barreira hidrolipídica deve ter-se em consideração:
- A utilização adequada do banho ou duche, de acordo com a idade do doente e o estado da sua pele;
- Os produtos de limpeza, que reduzem a função barreira e, portanto, devem ser utilizados com prudência;
- Os hidratantes e emolientes, cuja utilização, num esquema bem regrado, é claramente importante nestes doentes;
- Os hábitos, a higiene e, inclusive, os materiais da roupa podem ou não favorecer o surgimento de surtos.
Como está estabelecido em muitas recomendações de peritos, a utilização de emolientes deve ser maior que o de qualquer outro tratamento que possa ser prescrito aos doentes. Os emolientes, embora não corrijam os defeitos que originam a disfunção da barreira cutânea, proporcionam uma barreira contra a perda de água transepidérmica (através da pele).
A investigação internacional mais recente neste domínio está orientada para o desenvolvimento de formulações de reparação ativa da barreira hidrolipídica.